Escolas, professores e alunos da rede pública são premiados na Competição USP de Conhecimentos

ARTIGO
Ensino, pesquisa e extensão são a essência das universidades estaduais paulistas

Por Antonio Carlos Hernandes, vice-reitor da USP e Coordenador Geral do Programa Vem pra USP!

A pandemia que ainda vivemos impôs inúmeros desafios à sociedade. Tivemos que nos reinventar em muitos aspectos. Com as instituições de ensino não foi diferente. As universidades públicas foram instadas a revisar políticas para garantir a continuidade das atividades acadêmicas e, em particular, agir para manter as pesquisas em andamento. Rapidamente, foi preciso reconfigurar procedimentos, funcionamentos e modo de pensar a uma realidade quase que inteiramente digital, de maneira a sustentar as atividades da comunidade universitária em isolamento físico.

A nova conjuntura expôs ainda mais as universidades à opinião pública e reforçou a ideia de que a instituição universitária não pode ficar afastada da sociedade. Muito pelo contrário. Não se compreende, nem se admite, a universidade como um fim em si mesma, alheia à matriz social e aos seus anseios. O substrato social é mutante por natureza, de modo que a universidade deve, igualmente, aderir ao seu tempo sob pena de se tornar inviável.

Há um laço forte e inseparável entre o bom ensino, a boa pesquisa e a boa extensão. Ensino e extensão de qualidade devem se apoiar em base sólida da pesquisa de qualidade para não serem clones, meros emissores de discurso emprestado. Não há bons pesquisadores que não tenham se formado em boas escolas. Em outras palavras, a pesquisa qualifica o discurso educativo e, em contrapartida, se alimenta dos seus frutos. Cabe, portanto, à Universidade reforçar a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como um princípio fundamental. É a partir deste princípio que são definidos a natureza e os meios para atender às demandas da sociedade brasileira. A especialização da universidade em qualquer uma dessas dimensões (ensino, pesquisa e extensão) não é suficiente para responder aos desafios vividos por uma sociedade tão desigual e complexa como a brasileira.

No atual contexto de crise sanitária, o entrelace do ensino, pesquisa e extensão de qualidade, como ocorre na USP, na Unicamp e na Unesp, mostrou seu potencial em responder rapidamente às sucessivas demandas e fornecer à sociedade informações seguras, desenvolvimento de ações para mitigar o sofrimento de famílias, gerando inovação tecnológica, garantindo quadros de profissionais de alto nível, formulando e executando políticas públicas essenciais.

A Universidade de São Paulo tem dado exemplos de como pesquisa e inovação podem ser determinantes na solução de problemas complexos. Em um intervalo curto de tempo, a USP mobilizou cerca de 250 grupos de pesquisa, em todas as áreas do conhecimento, capazes de contribuir com a gestão da pandemia. A Universidade manteve atuação relevante e direta com a sociedade.

De fato, o escopo abrangente do papel da universidade atende à ideia de que o investimento nos três eixos, ensino, pesquisa e extensão, se retroalimenta de modo virtuoso. A combinação entre formação na graduação e para a pesquisa é um bom exemplo. A boa formação na graduação é um pré-requisito para a formação de um grande pesquisador, do mesmo modo que uma boa iniciação científica contribui para a formação na graduação. O mesmo se dá entre pesquisa e extensão universitária. Atividades de extensão desenvolvidas no âmbito de determinadas comunidades fornecem subsídios essenciais para a pesquisa em políticas públicas. Ao mesmo tempo fortalece o sentido de responsabilidade social aos futuros profissionais e promove as chamadas soft skills. E todas as unidades da USP têm demostrado a força da fertilização cruzada entre ensino, pesquisa e extensão.

A universidade tem entre os seus objetivos a busca por soluções dos problemas da sociedade e, por isso, não pode prescindir de ser mais inclusiva e diversa. Não há razão para se tomar como mutuamente excludentes a adoção de ações afirmativas e as metas de pesquisa que fazem avançar o conhecimento. A adoção de ações afirmativas visa à redução de desigualdades, e não pode ser tomada como assistencialismo a desvirtuar a missão da universidade. Busca-se, na realidade, garantir condições similares de oportunidade e desenvolvimento profissional a estudantes que vivem em contextos desiguais. Estudantes talentosos existem em todas as instâncias da sociedade. Ações afirmativas são políticas de acesso à universidade que não se confundem com a avaliação para a formação acadêmica, esta inteiramente baseada no mérito do aluno. Tais ações afirmativas obviamente não substituem as políticas governamentais urgentes e necessárias para combater os graves problemas que acometem o ensino fundamental e médio.

As ações adotadas pela USP para o ingresso de alunos de origem PPI (Pretos, Pardos e Indígenas) são acompanhadas de políticas de suporte, voltadas aos estudantes em situação socioeconômica vulnerável, visando a proporcionar melhores condições de permanência, vivência e desempenho acadêmico na Universidade. Esse investimento feito nos últimos anos não trouxe prejuízo para a excelência em pesquisa. O mesmo pode ser dito no campo da extensão. A diversidade enriquece a capacidade de formulação de políticas públicas e a relação com a sociedade, e não o contrário.

A escolha sobre qual dimensão se especializar seria um real dilema se a USP não reunisse condições para desempenhar um papel abrangente e multidimensional. Felizmente, a USP é dotada de recursos, sobretudo recursos humanos de alto nível, que atestam a excelência nos três eixos.

Ensino, pesquisa e extensão, indissociáveis e de qualidade, constituem a essência das universidades estaduais paulistas. Não está no horizonte retroceder e se distanciar de conquistas tão importantes para a sociedade brasileira.

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MATÉRIA

Escolas, professores e alunos da rede pública são premiados na Competição USP de Conhecimentos

Em 2020, quase 60 mil estudantes da rede pública oriundos de 642 municípios participaram da CUCo

Foi realizada na manhã de hoje, dia 14 de maio, a cerimônia de premiação da quarta edição da Competição USP de Conhecimentos (CUCo), uma competição criada exclusivamente para os estudantes do ensino médio da rede pública do Estado de São Paulo, com o propósito de incentivá-los a melhorar seu desempenho e ingressar nos cursos de graduação da USP.

“A CUCo é uma maneira de apresentar aos estudantes do ensino médio as possibilidades que existem por meio do ensino. É uma forma de estimular esses jovens que serão os grandes cientistas, os grandes profissionais que contribuirão para o desenvolvimento do nosso País. Se nós quisermos modificar a situação trágica em que a educação se encontra no Brasil, todos nós temos que nos empenhar, mesmo que para isso tenhamos que combater duramente os negacionistas, aqueles que consideram a educação uma perversidade para a juventude”, afirmou o reitor Vahan Agopyan.

Mesmo com as dificuldades causadas pela pandemia da covid-19, quase 60 mil estudantes da rede pública se inscreveram na competição. Ao todo, 3.707 escolas participaram, atingindo 642 dos 645 municípios do Estado de São Paulo, índice inédito de abrangência da competição.

Foram agraciadas 11 escolas que tiveram o maior índice de participação na competição, 20 professores incentivadores e 78 professores de destaque.

Também foram premiados 6.738 estudantes dos três anos do ensino médio, que receberam certificado e acesso à plataforma on-line com material complementar de estudo. Destes, 404 se inscreveram no vestibular da Fuvest e 96 foram aprovados e ingressaram na Universidade.

“A participação da família é muito importante nesta etapa da vida do jovem estudante. Nestes quatro anos da CUCo, já tivemos quase 1.800 alunos aprovados em um dos 183 cursos da USP. Uma grande parte desses alunos são os primeiros de suas famílias a ingressar em uma universidade pública, ou seja, são 1.800 famílias contagiadas por esse processo de mudança que tanto precisamos no Brasil. Por isso, é fundamental que continuemos firmes nessa luta para podermos avançar cada vez mais”, destaca o vice-reitor Antonio Carlos Hernandes, coordenador-geral do Programa Vem pra USP!.

A premiação da CUCo – que normalmente acontece em várias etapas, com eventos presenciais realizados em diversas cidades do Estado – foi realizada virtualmente e contou com a presença de dirigentes da USP, representantes da Secretaria Estadual de Educação e de instituições de ensino.

Acesse este link para assistir à cerimônia: https://youtu.be/Eyy7BilcZXg

Novo site
Durante a cerimônia também foi lançado site do Programa Vem pra USP!, que reúne conteúdo voltado especialmente para estudantes de ensino médio e professores, bem como todas as ações e projetos vinculados, como a CUCo e o Hub USP na Escola.

Cursos, videoaulas e informações sobre a USP, as formas de ingressos e as profissões também estão disponíveis aos usuários.

O conteúdo produzido pelas mídias universitárias da USP, que estejam vinculados à temática do Vem pra USP! também são replicados no site, facilitando e ampliando as formas de acesso ao conhecimento gerado pela instituição.

Vem pra USP!

A Competição USP de Conhecimentos é uma das ações do Programa Vem pra USP!, que tem como metas valorizar os estudantes do ensino médio das escolas públicas estaduais e criar ações que tragam benefícios às escolas, aos professores, aos seus alunos e à USP.

Criado em 2017, o Vem Pra USP! é uma parceria da Universidade com a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e a Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest). O programa também conta com a colaboração das Diretorias Regionais de Ensino, do Centro Paula Souza e das escolas vinculadas.