Ministrar disciplinas em línguas estrangeiras é uma mudança de paradigma

Por Aldrin Jonathan
A USP aprovou resolução que permite a criação de disciplinas optativas livres em línguas estrangeiras em seus cursos de graduação. A partir do segundo semestre deste ano, as Unidades de Ensino e Pesquisa poderão oferecer tais disciplinas. O intuito da Pró-reitoria de Graduação é abrir espaço para o oferecimento de disciplinas optativas livres em diversos idiomas, como forma de atrair públicos diversos de estrangeiros.
“Essa decisão é uma mudança de paradigma. Até agora, só era permitida a oferta de uma disciplina em língua estrangeira se a mesma fosse também oferecida em língua portuguesa, o que praticamente inviabilizava a iniciativa. Com essa nova possibilidade, a USP dá um passo importante para a modernização do ensino de Graduação, fortalecendo o seu processo de internacionalização”, explicou o pró-reitor de Graduação, Antonio Carlos Hernandes.
Até o momento não era permitido ministrar disciplinas da graduação em outro idioma que não fosse o português. Algumas em inglês foram criadas expecionalmente ao longo do tempo na Universidade, após autorização do Conselho de Graduação, mas não refletiram ação institucional. Para professores da Universidade, a USP se torna atraente a estudantes estrangeiros pela aprovação da medida.
“Abrir disciplinas em inglês é a chave para a internacionalização”, é o que considera o docente da Faculdade de Economia e Administração (FEA), Edson Riccio. Para o professor, responsável pela criação da primeira disciplina optativa em inglês da USP, ainda em 2000, não basta enviar alunos para o exterior, a Universidade precisa atrair alunos de fora para se internacionalizar. “Estrangeiro não vem cursar disciplinas em português. O atrativo são as aulas em inglês”, considera.
A Escola Politécnica da USP é a que mais recebe estrangeiros em número absoluto, foram 163 em 2013, contra 157 da FEA, a segunda com mais alunos do exterior. No entanto, levando em conta o número de alunos do exterior em comparação ao total de alunos matriculados, a FEA tem ampla vantagem: há um estrangeiro para cada 19 alunos, enquanto na Poli a relação é de 1 para 30. O melhor desempenho é da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, são 11 matriculados para cada 1 estrangeiro. Os dados são do Anuário Estatístico da Universidade.
O docente Riccio, também presidente da Comissão de Cooperação Internacional (CCint) há 15 anos, credita o resultado positivo à inclusão de disciplinas em inglês da unidade. Segundo o docente, houve aumento do número de estrangeiros realizando cursos na unidade após o oferecimento das disciplinas no idioma global. Além de atrair alunos do exterior, o oferecimento de disciplinas em inglês beneficia o acordo com universidades estrangeiras. “Desde 2000 fechei mais de 140 acordos internacionais”, diz.
A Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEA-RP) também é outra que já oferece disciplinas optativas em inglês. Para o docente Marcos Fava, que ministra optativas desde 2006, as disciplinas em inglês são frequentadas em sua maioria por estudantes estrangeiros. “As disciplinas tem o intuito de ajudar a FEARP a atrair alunos internacionais e ajudar nossos alunos a melhorarem o inglês”, avalia.
Para o docente, a iniciativa também contribui para o enriquecimento do curso, sendo possível utilizar artigos recentes e que não ainda têm tradução para o português. Fernando Antolini, aluno de pós-graduação que cursou optativa sobre agrobusiness em 2009 na FEARP, avalia essa necessidade: “Ter isso na graduação é um avanço. É uma ferramenta fundamental para ajudar a USP a se internacionalizar”, diz. Segundo Antolini, a disciplina foi importante para melhorar sua forma de apresentação de trabalhos e ideias em inglês. “Se eu não tivesse feito essas disciplinas, eu teria chegado cru ao intercâmbio e ao mestrado”.
A criação das novas disciplinas é de responsabilidade das Unidades, mediante aprovação pelo colegiado e adequação à legislação específica. Para os cursos que exigem carga horária em disciplinas optativas livres, a Unidade precisa garantir o número de disciplinas em língua portuguesa suficiente para a conclusão do curso.